Lembrança
Ela passou no
portão e parou de repente.
Aquele lugar trazia
muitas lembranças. As crianças corriam de um lado para o outro se divertindo. A
inspetora cuidava de um arranhão na perna de uma menininha com os olhos cheios
d’água.
Ela fora muito feliz
no tempo que estudara ali. Mas de uma hora para outra tivera que mudar,
deixando tudo para trás.
Eduardo! A lembrança
ainda a fazia sofrer. Tinha 17 anos quando mudou para aquela escola. Não queria
estudar ali, mas o pai foi bem firme, quando disse que não ia ficar gastando
dinheiro, pagando colégio particular se ela não dava valor. Tinha que reprovado
e então teve que se mudar para uma escola pública como castigo.
Depois de um mês,
era como se tivesse estudado ali a vida toda. Cursava o segundo ano e adorava
os colegas e também o garoto da sala do lado.
Ele era tudo que ela
havia sonhado. Alto, olhos cor de mel. Era romântico, tocava violão jogava
futebol. Ela se sentia nas nuvens quando estava com ele.
O pai ficou uma fera
quando ela contou, e não aceitou. Ela fingiu que havia terminado mas se viam
todos os dias na escola.
Nunca entendeu
porquê seu pai reagiu desse modo.
Mas tudo o que é bom
dura pouco. Não passou muito tempo e seu pai descobriu que ela não havia
realmente terminado.
Ele não falou nada o
dia inteiro. No outro dia quando ela chegou do colégio teve uma surpresa. Havia
um enorme caminhão de mudanças na frente da casa e vários homens de macacão
azul carregavam os móveis.
Pegou o celular e
ligou para Eduardo. Quando começou a falar com ele, sentiu o celular sendo
arrancado de sua mão.
Ela ficou olhando
atônita quando seu pai jogou o celular na calçada e pisou em cima, até
desmontar tudo. Ficou olhando para ela com fúria no olhar, depois saiu e entrou
na casa.
A lembrança desse
acontecimento ainda a machucava e fazia sair lágrimas dos olhos.
Saiu andando pelo
pátio do colégio. A porta da sala de diretoria estava fechada, mas foi aberta.
Ela parou de frente e ficou olhando para ver quem saía. Eduardo!
Ele veio vindo mas
não parou na frente dela. Passou por ela como se não tivesse ali. Ela se virou
e ficou olhando as costas dele até entrar na sala e fechar a porta.
O que tinha
acontecido?
De repente começou a
se lembrar...
Faróis fortes nos olhos, freadas, gritos de desespero,
cheiro de fumaça e escuridão.
Não é possível-
pensou- colocou a mão na parede e viu o braço desaparecer.
Ela havia morrido em um acidente de carro.
Josielem Limah
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